quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O PADRE por Dom Orani João Tempesta


Neste mês de agosto, conforme já salientamos em artigo anterior, celebramos um mês temático: o mês vocacional! E nós iniciamos no primeiro domingo com o Dia de Orações pelas Vocações Sacerdotais pelo fato da proximidade da celebração de São João Maria Vianney, patrono específico dos párocos e dos presbíteros em geral.

E foi assim que no recém-findo Ano Sacerdotal, em função do 150º aniversário da morte do Cura D’Ars, o Santo Padre Bento XVI o apresentou como um modelo para os sacerdotes de hoje.

O que é o ser presbítero hoje? Como deve agir o padre, hoje, na cena deste mundo em grande transformação? O presbítero, antes de tudo, é o homem da Palavra de Deus, o homem do sacramento, o homem do “mistério da fé”.

Os padres, como nos ensina o Concílio, “têm o dever primário de proclamar o Evangelho de Deus a todos os homens” (Presbyterorum Ordinis, 4). Mas, nesta proclamação está o dever também de levar cada homem e cada mulher deste mundo a um encontro pessoal com Jesus.

Hoje, mais do que antes, devemos nos empenhar para que cada pessoa possa fazer esta experiência do encontro com Deus, o devemos fazer com uma renovada esperança, mesmo nas adversidades de um mundo extremamente secularizado, liberal, ateísta e até cético.

As pessoas devem perceber no sacerdote “Aquele” a quem ele está a serviço: o que chamamos na teologia da configuração com Cristo. Nesta dimensão, encerra-se a sua vital presença na celebração eucarística, ápice da vida espiritual da Igreja, em que o sacerdote age na pessoa de Cristo. Em suma, o Sacerdote deve ser um homem em contato com Deus, e que nos leva a fazer esta mesma experiência de santidade.

A mais sublime missão do sacerdote hoje é, sem dúvida, ser um Cristo agora, pois “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre”. Porém, o padre deve avançar com o tempo, com a história, mas não deve ter uma atenção superficial sobre tal “modernidade”. É chamado a ser crítico e também vigilante com a realidade que se lhe apresenta. O grande salto qualitativo na vida de qualquer padre seria uma autêntica renovação, que é possível e necessária, e ao mesmo tempo uma grande afeição a uma plena e radical fidelidade à Palavra de Deus e à tradição da Igreja, aos quais ele serve no seu ministério. A sua primeira e fundamental vocação é a da santidade, juntamente com a de toda a Igreja!

O sacerdote é chamado a ser capaz de se entreter com cada pessoa, acreditando que o outro vale à pena; a ser uma pessoa mística e que, ao mesmo tempo, se interessa pelas coisas do mundo, pela vida do homem, nas suas angústias e alegrias, para que elas se tornem algo sagrado e agradável ao Senhor.

O sacerdote é também aquele que procura uma nova linguagem para se comunicar com o mundo de hoje, principalmente neste mundo da multimídia.

Particularmente, dirijo-me ao presbitério da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro para partilhar com todos as alegrias e tristezas, as esperanças e decepções, as vitórias e dificuldades que marcam o nosso ministério neste mundo confuso e até preconceituoso com a figura do Bom Pastor, que deve ser todo ministro do altar. Recordo as palavras que o Papa Bento XVI dirigiu aos padres por ele ordenados em junho de 2010: “O sacerdócio – insistiu – se funda na coragem de dizer sim à vontade de Deus”. Nesta orientação das vidas dos novos sacerdotes, o Papa, enfim, indicou a prioridade da Eucaristia, que sempre enche de “íntimo estupor”. “Quando celebramos a Santa Missa – disse – temos nas mãos o pão do Céu, o pão de Deus, que é Cristo, grão dividido para multiplicar-se e tornar-se o verdadeiro alimento da vida para o mundo”.

O sacerdócio ministerial é entrega, é imolação, é doar-se integralmente, é cruz. Tomar a cruz significa comprometer-se para derrotar o pecado que impede o caminho rumo a Deus, acolher cotidianamente a vontade do Senhor, aumentar a fé, sobretudo diante dos problemas, das dificuldades, do sofrimento.

Que possamos, junto com o Santo Padre Bento XVI, como na oração para o Ano Sacerdotal, repetir com todos os nossos padres, e com o mesmo fervor do Santo Cura D’ars, as palavras com que ele costumava rezar: “Eu te amo, Senhor, e meu único desejo é amá-Lo até o último suspiro da minha vida”.

Dom Orani João Tempesta