quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Na defesa do Pensamento Crítico


A Unesco Instituiu o dia 21 de Novembro como o dia Internacional da Filosofia. Contudo a formulação de um dia para comemoração desse advento pensante para a humanidade que é a filosofia visa muito mais do que situa-la em nosso calendário civil. Quer-se com isso atrair as atenções da sociedade em geral para o essa ciência tão abrangente e de tamanha importância para os seres humanos. Pensar é próprio do humano. E todo aquele que busca transpor o mundo da experiência visando explicar e entender essa experiência tem aptidão a filosofo. A filosofia é a ciência das causas primeiras sobre a qual nos debruçamos na busca por respostas aos problemas da vida.
A Lei nº 11.684, de 2 de junho de 2008, altera o art. 36 da Lei nº 9.394/96, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio (DOU de 3/6/08, MEC, pág. 1).
Aproveito o espaço para refrescar a memória do povo goiano que com certeza não se lembram da infeliz expressão usada pelo deputado Sandro Mabel em 2006. Tentando-se lançar como a terceira via da eterna polarização entre PMDB – PSDB, o referido político em uma entrevista a um jornal da capital disse que se fosse eleito governador “não concederia a distribuição de bolsas para alunos que desejariam cursar filosofia”. Para ele, o auxílio seria mais bem empregado se destinado a cursos mais “ativos” ou de maior ação na sociedade. Na época, a afirmação alimentou debate caloroso.
Quanto arrependimento tal frase não causou ao seu dono. O líder político que aqui se configura, governa para um mundo que produz técnica, reflexos de uma visão industrial de produção em massa. O pensamento e a consciência de quem produzem ou de quem consume não importam. O que conta na realidade é a dinâmica de mercado. Uma situação que talvez ilustrasse bem o tipo de povo para tal líder seria o filme Tempos Modernos (1936) do cineasta britânico Charles Chaplin.
Charles Chaplin quis transmitir uma mensagem social. Máquina tomando o lugar dos homens, as facilidades que levam a criminalidade, a escravidão. A conclusão que se vê: o ser humano é objeto do mercado. Porém as coisas não podem correr para isso. Quando não desenvolvemos uma crítica sobre os diversos temas que nos cercam, acabamos por ter de aceitar idéias que são impostas de fora. Sem filosofia, sem a atitude do pensamento critico a tirania estaria a nossa porta, senão ao nosso lado ou pesando suas resoluções sobre nós.
Procurado pelo mesmo jornal onde concedeu a entrevista em 2006 para comentar a decisão do Senado de incluir filosofia e sociologia no currículo do ensino médio, Sandro Mabel se esquivou do assunto e evitou retornar à polêmica. Disse somente que é o maior fã dessas disciplinas. Interessante.
Mas o problema não é só dos lideres. Nota-se no Brasil uma atitude de acomodação da população de um modo geral. Estamos nos acostumando com a instituição da democracia e seus erros. É bom lembrar: a Ditadura não veio do espaço (uma das primeiras medidas da Ditadura foi retirar a filosofia do ensino médio) e seus reflexos como a violência, corrupção e a desigualdade social, etc., ainda estão presentes. A sociedade estudantil e o povo em geral devem buscar alternativas e caminhos de transformação para a mudança da realidade social que entre nós se instaura.
A Filosofia é, inegavelmente, a disciplina mais necessária e mais viva entre quantas se estudam na escola e se afirmam na cultura e na sociedade. Que tenhamos mais apaixonados pela sabedoria no presente para vermos a fecundidade dessas sementes no futuro.

Welinton Silva é seminarista redentorista, licenciado em filosofia pela Universidade Católica de Goiás, Goiânia.
welintonredentorista@hotmail.com

Artigo publicado na edição nº 7686 de 21 de novembro de 2009 no Jornal Diário da Manhã.

Mais um Sínodo para a Igreja


Um acontecimento importante movimentou a Igreja Católica Romana no período de 5 a 26 de outubro de 2008. Poucos sabem que durante estes dias aconteceu na cidade do Vaticano a XII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que abordou a interessante temática sobre “A Palavra de Deus na vida e missão da Igreja”.
A preparação deste Sínodo suscitou numerosas iniciativas para o anúncio da Palavra de Deus, ao ponto de vários bispos escolherem como programa pastoral temas relacionados com o Sínodo.
As intervenções feitas pelos Padres sinodais, foram antecedidas pela intervenção do Papa Bento XVI que falou acerca do trabalho exegético. A exegese segundo Bento XVI não deve ser só histórica, mas teológica para o futuro da fé. No entanto, um fato histórico se destaca nesse evento: pela primeira vez na história um líder da Igreja no Oriente participou de um Sínodo Católico. A intervenção do Patriarca Ecumênico Bartolomeu I aconteceu na Capela Sistina. Bartolomeu I discorreu sobre “A Escritura na tradição ortodoxa”, extrapolando os limites de uma cordialidade teológica, mas, apresenta uma verdadeira fraternidade entre as “igrejas irmãs” por parte de seus pastores maiores.
Para Bartolomeu I a Palavra de Deus tem importância fundamental não apenas para a Igreja Católica Romana, mas também para todos aqueles chamados a testemunhar Cristo nos nossos tempos. Ressalta ainda que a Igreja tem necessidade de redescobrir a Palavra de Deus em cada geração e fazê-la emergir com renovado vigor e força persuasiva, também no nosso mundo contemporâneo, que, no profundo de seu coração, está sedento da mensagem de paz, esperança e caridade de Deus.
Já o Papa Bento XVI lembrou, na missa de abertura do sínodo, que a primeira e fundamental tarefa da Igreja é nutrir-se da Palavra de Deus. De fato, afirma ele, se o anúncio do Evangelho constitui a sua razão de ser e sua missão, é indispensável que a Igreja conheça e viva aquilo que anuncia, para que sua pregação seja crível, apesar das limitações e das pobrezas dos homens que a compõem. Neste Ano Paulino, sentiremos ressoar com particular urgência a exclamação do Apóstolo dos gentios: 'Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho'.
Do Brasil, além do Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer (um dos Presidentes delegados do Sínodo), participaram também o Arcebispo de Mariana (MG) e Presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha; o Arcebispo de Belo Horizonte (MG) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB, Dom Walmor Oliveira de Azevedo; o Arcebispo de Ribeirão Preto e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da CNBB, Dom Joviano de Lima Júnior e o Bispo de Goiás (GO) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-catequética da CNBB, Dom Eugène Lambert Adrian Rixen.
As contribuições dos Padres sinodais foram de grande valia. Uma passagem do resumo da Mensagem do Sínodo dos Bispos ao Povo de Deus assim nos exorta: “Queridos irmãos e irmãs, custodiai a Bíblia em vossas casas, lede-a, aprofundai e compreendei plenamente suas páginas, transformai-a em oração e testemunho de vida, escutai-a com amor e fé na liturgia. Criai o silêncio para escutar com eficácia a Palavra do Senhor e conservai o silêncio depois da escuta, porque ela continuará habitando, vivendo e falando-vos. Fazei que ela ressoe no começo do vosso dia, para que Deus tenha sempre a primeira palavra e deixai-a ressoar em vós à noite, para que a última palavra seja de Deus.”.

Welinton Silva é seminarista redentorista, licenciado em filosofia pela Universidade Católica de Goiás, Goiânia.
welintonredentorista@hotmail.com

Artigo publicado na edição nº 7680 de 15 de novembro de 2009 no Jornal Diário da Manhã.