quinta-feira, 17 de junho de 2010

O ser humano é pessoa

Hoje quero partilhar com o amigo leitor uma passagem de um artigo meu elaborado a partir da disciplina de Antropologia Teológica. espero que gostem!
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Situar o ser humano no conjunto da criação encontra seu fundamento na tradição bíblico-cristã, principalmente quando esta ligação parte do tema da criação do homem a imagem de Deus. Lentamente ao longo dos séculos a tradição da Igreja foi construindo sua resposta em torno à afirmação do ser humano como pessoa. Estudiosos como W. Pannenberg acreditam que a origem da afirmação do ser humano como pessoa, situa-se no campo da experiência religiosa. A pessoa passa a se compreender no acolhimento da revelação divina e sua relação com Deus. O livro base da fé cristã, a Bíblia, não usa a palavra pessoa ao se referir ao ser humano, mas realiza uma descrição do ser humano criado por Deus “em uma tríplice relação: de dependência em relação a Deus; de superioridade frente ao universo; de igualdade diante do outro humano” (Cf. Spencer, pg. 30).
Atualmente, a realidade do homem como ser pessoal constitui o melhor resumo da compreensão cristã do ser humano. A percepção de ser humano como pessoa constitui valioso patrimônio para a Igreja, indispensável para o diálogo-confronto com o mundo moderno e para a avaliação do processo vivido pelo povo marginalizado em busca de autonomia. O magistério atual da Igreja situa insistentemente a dignidade da pessoa humana no centro de seus ensinamentos e orientações. Quando se trata da defesa da vida humana, do trabalho, do significado do progresso cientifico e técnico, sempre está em jogo a humanização do homem.
Após diversos debates entre a filosofia grega e a tradição judeu-cristã a fim de formular os termos da fé a todos os povos, principalmente os pertencentes ao império romano, a discussão acerca das definições de Deus (Trindade) e de ser humano não ficaram de fora. A utilização de termos categóricos como natureza (phýsis), substância (hypóstasis) e essência (ousia) acomodaram a noção de pessoa à filosofia grega. Estes debates se refletiram sobre o mistério da Trindade, que, conforme nos foi ensinado, uma única natureza divina se realiza em três sujeitos distintos. Porém o que constitui o Pai, o Filho e o Espírito Santo é sua relação com o ser humano e não sua natureza, isso se refere ao diálogo de infinita abertura comunicativa e amorosa entre as pessoas. Conforme afirmativa “a relação não é algo que acontece para a pessoa, mas é ela própria, diferentemente do que pensava Aristóteles que a caracterizava como mero acidente. Ser pessoa é ser para o outro, o que dá a cada criatura um valor e dignidade únicos” (cf. Spencer, p. 30).

Continua...

Fr. Welinton Silva, C.Ss.R.