segunda-feira, 14 de abril de 2008

Dom Estêvão Bettencourt: servo de Deus, filho dileto da Igreja

Partiu para estar com Cristo Dom Estevão Tavares Bettencourt, sacerdote e monge beneditino, incansável professor de teologia e defensor da fé católica. Que o Senhor o acolha nos prados do Bom Pastor e lhe conceda a recompensa dos servos bons e fiéis!
No mundo é raro alguém pelo vigor da fé, coerência e lucidez intelectual alcançar na vida tamanha densidade de trabalho como conseguiu o monge beneditino D. Estevão Bettencourt, OSB, do Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro.
Nele se encontraram o ideal dominicano de Tomás de Aquino 'contemplata aliis tradere' [dar aos outros as coisas contempladas], plasmado numa vida religiosa beneditina de 'ora et labora' [oraçao e trabalho]. D. Estevão nasceu e foi batizado como Flávio Tavares Bettencourt, no Rio de Janeiro aos 16 de Setembro de 1919. Em 1923 viajou com os pais para Paris, onde permaneceu até 1928. Em Paris iniciou seus estudos no Lycée Buffon. Quando do retorno ao Brasil, retomou seus estudos no Colégio de São Bento do Rio de Janeiro, onde de 1931 a 1935, fez o curso fundamental [antigo ginasial]. O convívio diário com os monges o fez conhecer e amar a vida monástica. Tendo concluído o curso fundamental, entrou no Mosteiro a 1 de Fevereiro de 1936. Recebeu o hábito a 6 de Outubro de 1937. Em razão de sua devoção aos mártires da Igreja Primitiva, teve como padroeiro onomástico o protomártir S. Estevão. Seus primeiros votos foram emitidos a 7 de Outubro de 1937 na sala capitular do Mosteiro. Foi mandado por D. Tomás Keller para Roma - a fim de doutorar-se em Filosofia no Pontifício Ateneu de Santo Anselmo - em Novembro de 1937, permanecendo lá até 1945. Recebeu o grau de Bacharelado em Julho de 1939 e prestou exame de Licenciatura em 18 de Maio de 1940. Fez sua Profissão Solene aos 7 de Novembro de 1940 em Monte Cassino [o mesmo Mosteiro em que Tomás de Aquino recebeu os seus primeiros ensinamentos]. Recebeu o Diaconato aos 12 de Julho de 1942. Foi ordenado sacerdote aos 18 de Julho de 1943, na Igreja de S. Agnese na Piazza Navona. Em Novembro de 1944 defendeu a tese de Doutorado sobre Orígenes.
Chegou ao Rio aos 2 de Fevereiro de 1945. Neste mesmo ano assumiu a Cátedra Bíblica na Casa de Estudos da Congregação Beneditina do Brasil. Lecionou também na Universidade Santa Úrsula de 1946 a 1980; na Pontifícia Universidade Católica de 1958 a 1961 e de 1968 a 1974; na Universidade Católica de Petrópolis de 1968 a 1978; no Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro desde 1985; na Escola Superior de Catequese 'Mater Ecclesiae', na Escola 'Luz e Vida' de Catequese, no Instituto Pio X do Rio de Janeiro de 1957 a 1958. É Diretor e Redator de Pergunte & Responderemos, desde 1957. Sobre a pessoa e o pensamento deste ilustre beneditino escreveu muito bem o Professor Edson de Castro Homem que nos diz: 'De fala mansa, é vigoroso no que diz. De tom suave, é sonante no que defende. Convence pelos argumentos e não pela retórica. Insiste na concisão e no necessário, sem resvalar-se na prolixidade e na repetição. Põe a inteligência a serviço do ensino e sobretudo da difusão da fé...
Pensador do século XX, debateu-se contra o fideísmo e o ceticismo, contra o relativismo e o dogmatismo, contra o niilismo e o fundamentalismo em vários autores e tendências do pensamento...Conseguiu permanecer fiel não só à metafísica, mas também à teoria do conhecimento tomista, admitindo os limites da razão em face à fé, reconhecendo a superioridade desta, mas sem humilhar nem desqualificar a razão num 'cogito' fechado ao ser e à transcendência porque o vê aberto e capaz de conhecer a verdade revelada e de refletir toda a realidade inclusive o Mistério'. Tomás era dominicano com espírito beneditino e D. Estevão é beneditino com espírito dominicano. Há quase 50 anos [desde 1957] este amigo e incansável monge publicou sozinho, mensalmente, a revista Pergunte & Responderemos, que a muitos tem ajudado no fortalecimento da fé cristã. Como Tomás de Aquino, D. Estevão não se vale do argumento de autoridade da verdade de fé para convencer, senão que pelo trilho da razão, aproxima o interlocutor ao conteúdo da fé. Nele vemos o labor de conciliar a fé e a razão. Talvez este tenha sido o seu grande trabalho ao longo destas quase cinco décadas. Mas o grande exemplo é a coerência no ideal de vida cristã. Que Deus o recompense pelo imenso trabalho prestado em favor de todos os que tem sede de Sabedoria...e Saudade de Deus.
Agora que partiu para a Casa do Pai, o Senhor o acolha na glória, em companhia da Toda Santa Virgem Maria, de todos os santos monges e santos teólogos que ilustraram e defenderam a fé da Igreja para o bem do rebanho de Cristo!

Requiescat In Pax!

Homenagem Blog do Welinton Silva.